sábado, 20 de setembro de 2008

"DE PEDRA"


Eu sou de pedra, me dizias,

a defender tua distância.


E esquecias o musgo,

essa tua epiderme de ternura,

e o teu corpo de carinhos,

num horizonte de água e terra,

a te envolver na vida.


— Eu sou de pedra — insistias.

— Pesado. Denso. Inalterável.

De estofo eterno.

Apenas estou, não sofro;

se algum gesto me ferir,

eu sou duro;

quebrarei o gesto sem sentir.


E esquecias

que és pouso de borboletas,

alicerce de flores,

abraço de raízes,

vulnerável em tudo

do que em ti pertence

e minha mão possui, acaricia.


— Eu sou de pedra.

E esquecias, esquecias.


Lupe Cotrim

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