quarta-feira, 24 de setembro de 2008

"PAISAGEM"


Se acaso eu ainda (ou já) não existisse,

teria o mesmo rosto essa paisagem,

a mesma verde luz de meninice

nos olhos de pretérito viagem.


Ver-me seria qual se me não visse:

como se olhasse ausentemente a aragem,

um beijo que nenhuma boca disse,

grão de nada na sombra da folhagem.


São de silêncio e gelo as suas flores,

têm os seus frutos a distância e as cores

de céu que não chegou a amanhecer.


E eu sofro em mim todos os homens, quando

ergo a minha alma lívida, cantando:

Vê-la é belo (e mortal) como viver!


Abgar Renault

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