segunda-feira, 8 de setembro de 2008

"DIA DE CHUVA"

Dia de chuva,
dia cinzento,
dia de névoa,
dia de vento...
Vento que venta,
chuva que chove,
névoa cinzenta
que me comove...
Cinza tão fria
que cobre tudo:
alma de um dia
tedioso e mudo.
O mar de espumas,
- prata brunida -
tal como em brumas
a minha vida.
O céu parece
que vem a mim,
e a chuva desce
mansa, sem fim.
Faz bem à alma
esta tristeza
e a doce calma
da natureza.
Turva aquarela
à nossa vista,
como uma tela
impressionista.
No chão das ruas,
pelos dois lados,
há poças nuas
de olhos pisados.
Dançam letreiros
bêbedos,
frios,
qual marinheiros
sem seus navios.
Frios letreiros
piscam nervosos,
quais sinaleiros
de inúteis gozos.
Noite de chuva,
noite de vento,
noite viúva,
- pranto e lamento.
Vento que venta,
chuva que chove,
névoa cinzenta
que me comove.
Chuva morfina
que assim,
tão calma,
tão mansa e fina
chove em minha alma.
(Poema de JG de Araujo Jorge)
- do livro Cantiga do Só -

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